OAB Subseção Pelotas

Centenário Gilda Maciel Corrêa Meyer Russomano

publicado domingo, 17 de setembro de 2023 em Notícias

O dia 18 de setembro de 2023 marca o centenário de nascimento da advogada e professora Gilda Russomano. Confira abaixo texto de autoria do jornalista Clayton Rocha.

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Gilda Maciel Corrêa Meyer Russomano foi Advogada, Autora técnica, sobretudo nas áreas de Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado, em que tem obra extensa, além de Consultora regional, nacional e internacional, Assessora e Representante do Brasil em organismos globais, e Professora de vários níveis de ensino, principalmente do universitário, e do Instituto Rio Branco, do Ministério de Relações Exteriores brasileiro.

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Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 18 de setembro de 1923, mas viveu em Pelotas desde novembro desse ano, para onde viajou ainda muito bebê, dizem que com 20 dias de idade, em razão de doença de um de seus irmãos pequenos, e onde acabou ficando por insistentes pedidos da avó, que enviuvou cerca de um ano depois de sua chegada. E Gilda ali ficou até casar-se, em 09 de maio de 1946, com Mozart Victor Russomano, excetuado um período em que residiu no Rio, acompanhada da avó materna, de onde retornaram após a morte prematura da mãe de Gilda, Dolores Moreira Antunes Maciel, em solteira, de tuberculose, no dia 21 de março de 1935, quando Gilda tinha apenas 11 anos de idade. Seu pai, João Gaspar Corrêa Meyer, casou-se pela segunda vez e Gilda teve meios-irmãos.

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Cresceu, portanto, no casarão pelotense, projetado e construído por seu avô materno, o Engenheiro Arthur Antunes Maciel, com sua avó, Leonídia Gonçalves Moreira (em solteira), filha do Barão de Butuhy e sobrinha do Conde de Piratiny, um casal de grandes proprietários rurais e grandes acionistas do Banco Pelotense. Gilda também era acionista deste Banco, tendo recebido, como presente dos avós, na sua chegada a Pelotas, ações dele num valor igual a 70 pequenos imóveis urbanos locais, segundo o Dr. Mozart Victor Russomano contava.

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Nascida em família de monarquistas, os Antunes Maciel, Gilda, porém, era republicana. Como o seu avô Arthur… A avó, Leonídia, criou-a com a ajuda da filha, Carmen Maciel Braga (nome de casada), que enviuvou muito cedo.

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Gilda descendia de pioneiros no Estado do Rio Grande do Sul e conviveu sempre com figuras ilustres, entre as quais seu tio, o famoso médico oftalmologista gaúcho Ivo Corrêa Meyer, a quem ela considerava um segundo pai, o General Flores da Cunha, seu primo paterno, e Oswaldo Aranha, amigo da família e a ela ligado por vários casamentos desde o século XVI.

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Inteligentíssima e com um raciocínio matemático, foi a primeira mulher brasileira a dirigir uma Faculdade de Direito Federal, no caso, a de Pelotas, de 1969 a 1973. Foi também a primeira mulher gaúcha a ser Assessora Especial da Delegação brasileira da Conferência da ONU, em 1968. E foi ainda a única Presidente Mulher da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, em seus 30 anos de existência até então.

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Gilda Maciel Corrêa Meyer Russomano

com beca docente universitária,

em foto sem data.

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Gilda e Mozart Victor tiveram os seguintes filhos: Carmen Dolores Corrêa Meyer Russomano (30 de abril de 1947), Mônica Beatriz Corrêa Meyer Russomano (10 de junho de 1950), Leonídia Corrêa Meyer Russomano, (12 de maio de 1954), e Victor Russomano Júnior (19 de junho de 1958 – 20 de janeiro de 2020), além de uma menina natimorta, Elda Corrêa Meyer Russomano (24 de agosto de 1956).

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Gilda foi uma mulher-orquestra que administrava o tempo com uma perfeição espantosa. Tinha auxiliares, claro, mas fazia listas – que seguia religiosamente e ticava – para tudo. Colecionava de um tudo, de caixinhas de fósforos de brinde a perfumes franceses e, destes, chegou a ter quase 100 frascos. O seu preferido era o Joy, de Jean Patou, com aroma de jasmins e rosas, que era conhecido então como “Le parfum le plus cher du monde” (O perfume mais caro do mundo). O saudoso Dr. Bruno de Mendonça Lima, que também foi Diretor da Faculdade de Direito de Pelotas, dizia que Gilda não usava o Joy: dizia que ela era o Joy… E era mesmo!

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Amava rosas amarelas e, na falta delas, as de cor champanhe. Era prendadíssima: bordava fantasias lindas, carregadas de paetês e que tais, assim como vestidos de festa, para ela mesma, para as filhas e até uma, ricamente bordada, de Chinesa, para a sobrinha Nailê, filha da irmã (Rosah) de Mozart Victor. A casa deste último e de Gilda era primorosamente decorada, num estilo “eclético pelotense” por assim dizer, graças a um dom natural dela, e funcionava como um relógio. Era também um ás na cozinha e uma doceira ímpar: seus Ovos Moles eram os melhores do mundo e sua Geleia de Morangos, digna do Hotel Ritz, de Londres, que faz uma muito parecida até hoje, mas não tão boa, conforme a filha Mônica, sem falar de seus Colchões de Noiva, suas Montanhas Russas pelotenses, seus Reis Alberto, etc, tão elogiados, quanto apreciados e requintadamente apresentados. Era também muito religiosa e caridosa.

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Suas escolhas de lazer incluíam, desde mocinha, as novelas policiais, descobrindo sempre o criminoso muito antes do desenlace da estória – atividade que Mozart Victor não entendia… Adorava jogar cartas com um grupo de amigas e quase sempre ganhava, assim como, ganhava repetidamente dos filhos em jogos de cartas (sobretudo Biriba e Crapô), de Batalha Naval, de Xadrez, de Memória, de Palavras Cruzadas, etc…

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Fluente em, pelo menos, quatro línguas, além do português – espanhol, francês, inglês e italiano – comunicava-se bastante bem inclusive em alemão.

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De pequena estatura e muito magra, com maneiras extremamente delicadas e requintadas, Gilda era de uma elegância discreta, inclusive nas gravidezes, que mal se percebiam, mesmo no final delas. Era tímida, mas decidida, séria, mas sensível, e, sobretudo, muitíssimo competente. O que fazia, fazia bem feito.

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Foi Aluna Laureada da Faculdade de Direito de Pelotas, pertencente, à época, à Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS, em que se formou no dia 21 de dezembro de 1951.

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Em 1964, Gilda apresentou a seguinte Relação de Títulos em Concurso para a Cátedra de Direito Internacional Privado da Faculdade de Direito, de Porto Alegre:

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I – ATIVIDADE NO MAGISTÉRIO

1 – Catedrática de Direito Internacional Público da Faculdade de Direito de Pelotas, mediante concurso realizado em 1961, com aprovação unânime e distinção final;

2 – Livre-Docente de Direito Internacional Privado, da mesma Faculdade, mediante concurso realizado em 1956, com aprovação unânime e média final de 9,3;

3 – Professora Adjunta de Direito Internacional Privado da mesma Faculdade, por promoção, a partir de 1961;

4 – Assistente de Direito Internacional Privado da mesma Faculdade, de 1953 a 1961;

5 – Professora Contratada de Direito Internacional Privado da mesma Faculdade, durante o primeiro semestre do ano letivo de 1955;

6 – Professora Contratada de Direito Internacional Público da mesma Faculdade, desde 1º de agosto de 1955 e até sua nomeação como Catedrática Efetiva, em 1961;

7 – Professora Titular de História da Filosofia no Curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia de Pelotas, da Universidade Católica Sul-rio-grandense, em que lecionou até 1965;

8 – Professora Titular de História da Filosofia no Curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia de Pelotas;

9 – Professora Titular de História da Filosofia do Curso de Ciências Sociais da mesma Faculdade;

10 – Professora Titular de Noções de Direito da Faculdade de Serviço Social D. Francisco de Campos Barreto, também da Universidade Católica Sul-rio-grandense.

11 – Professora de Matemática do Curso Científico do Colégio São José, de Pelotas, durante os anos letivos de 1948 e 1949.

12 – Professora de Espanhol do Curso Científico, no mesmo estabelecimento de Ensino Secundário nos anos letivos de 1948e 1949;

13 – Professora Primária, diplomada com grau “Plenamente”, pelo Colégio São José, de Pelotas, após a realização do Curso Complementar, com 3 anos de duração, concluído em 14 de dezembro de 1940.

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II – DIPLOMAS E TÍTULOS UNIVERSITÁRIOS, obtidos até então:

14 – Diploma de Doutor em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul;

15 – Diploma de Bacharel em Direito, como Aluna Laureada, tendo obtido “Distinção” em mais de 75% das disciplinas do Curso, expedido pela Faculdade de Direito de Pelotas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul;

16 – Membro Titular da Societé Internationale de Droit du Travail et Securité Sociale;

17 – Membro Fundador do Instituto Latinoamericano de Derecho Procesal;

18 – Membro Fundador do Instituto de Direito do Trabalho do Rio Grande do Sul;

19 – Membro Correspondente do Instituto de Advogados Brasileiros, com sede no Rio de Janeiro;

20 – Membro Correspondente do Instituto de Advogados do Rio Grande do Sul, com sede em Porto Alegre;

21 – Membro Honorário do Instituto Paranaense de Pedagogia;

22 – Membro Efetivo do Instituto de Sociologia e Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul;

23 – Diretora da Revista da Faculdade de Direito de Pelotas, por designação do Magnífico Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desde 1960;

24 – Representante dos Livre-Docentes junto à Congregação da Faculdade de Direito de Pelotas, desde 1956, até sua nomeação como Catedrática;

25 – Membro do Conselho Técnico Administrativo da mesma Faculdade até janeiro de 1964, quando se exonerou da função.

26 – Secretária da Congregação da Faculdade de Filosofia de Pelotas, da Universidade Católica Sul-rio-grandense, até 1958;

27 – Membro do Conselho Técnico Administrativo da mesma Faculdade, até 1958;

28 – Membro da Comissão Elaboradora do Anteprojeto de Regimento da Faculdade de Direito de Pelotas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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III – ATIVIDADE CULTURAL E PROFISSIONAL:

29 – Representante do Brasil no Comitê Jurídico, organizado pela Agência Internacional de Energia Atômica, reunido em outubro de 1962, em Viena, Áustria;

30 – Representante do Brasil no Comitê Jurídico, referido no item anterior, também na reunião de janeiro de 1963, em Viena, Áustria;

31 – Membro da Comissão Técnica, criada pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, para estudar a criação de uma “Zona Franca” no Porto da cidade de Rio Grande, em 1960;

32 – Membro da Comissão Examinadora do Concurso para Livre-Docente de Direito Internacional Público da Faculdade de Direito de Pelotas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1959;

33 – Membro da Comissão Examinadora do Concurso para Livre-Docente de Medicina Legal da Faculdade de Direito de Pelotas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1957;

34 – Membro da Comissão Examinadora do Concurso para Livre-Docente de Filosofia do Direito, na Faculdade de Direito de Pelotas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1963. (Itens 35 a 54, Conferências, Aulas Inaugurais e Aulas Magnas)

55 – Presidente da Comissão de Direito Internacional Privado do I Congresso dos Advogados do Rio Grande do Sul, havido em Porto Alegre, no ano de 1958;

56 – Relatora do Brasil nas Mesas Redondas de Direito Internacional Privado e de Direito Internacional Público, das I Jornadas Uruguaio-Brasileiras de Direito Comparado, realizadas pela Faculdade de Direito da Universidade do Uruguai, em Montevidéu, em1961;

57 – Relatora do Brasil nas Mesas Redondas de Direito Internacional Público das II Jornadas Uruguaio-Brasileiras de Direito Comparado, realizadas pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, em São Paulo, em 1963;

58 – Participante do Congresso Jurídico Nacional, realizado em 1950, pela Faculdade de Direito de Porto Alegre, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com tese aprovada e sustentada na Comissão Técnica e no Plenário;

59 – Participante do I Congresso Internacional de Direito Social, realizado em São Paulo, em 1954,pela Sociedade Internacional de Direito Social, com apresentação de tese aprovada;

60 – Participante do III Congresso Brasileiro de Direito Social, realizado na Bahia, em 1953, pelo Instituto de Direito Social, com apresentação de tese aprovada;

61 – Atividade Profissional como Advogada a partir de 1952, com Inscrição na OAB, Seção Rio Grande do Sul, número 1.704, em que se destaca sua atuação no caso de homicídio confesso, perpetrado por Vilma Mendieta, que, graças a Gilda, foi absolvida.

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Depois de 1964, entre muitas outras atividades, infelizmente, até agora, não tão bem documentadas, Gilda ainda seria:

– Professora Titular de Direito Internacional Privado da Faculdade de Direito de Pelotas, a partir de 1967;

– Diretora do Instituto de Sociologia e Política, também da Faculdade de Direito de Pelotas, de 1965 a 1969;

– Diretora desta Faculdade de Direito de 1969 a 1973, como já dito;

– Vice-Presidente do Instituto dos Advogados do RS, de 1972 a 1973, e integrante de seu Conselho Superior, a partir de 1974;

– Professora Titular Visitante da Universidade de Brasília, de 1974 a 1988;

– e, por muito tempo, Professora Titular do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, como citado.

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Recebeu o título de Professor Emérito da Universidade Federal de Pelotas no dia 3 de setembro de 1993, em cerimônia realizada às 10 horas da manhã, no Auditório da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, que até hoje leva o nome de seu bisavô materno.

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De suas várias atividades internacionais posteriores, destaca-se de novo a de ter sido Assessora Especial da Delegação brasileira na Conferência da ONU, havida em Nova Iorque, EEUU, no ano de 1968, quando foi a primeira gaúcha a ocupar tal posição, e a de ter sido Membro da mesma de 1983 a 1992.

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Foi ainda contratada pela Agência Internacional de Energia Atômica da ONU, em outubro de 1962 e em janeiro de 1963, como Representante da América Latina junto ao comitê de juristas, criado para discutir o lançamento de resíduos radioativos nos mares, fato que, também já tendo sido citado, precisa ser enfatizado, porque, naqueles tempos, as mulheres não tinham este tipo de atuação profissional, nem este tipo de destaque, muito menos, no cenário internacional.

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E, um pouco depois, em 1965, ela esteve contratada pela OEA para estudar as consequências trabalhistas e previdenciárias da integração econômica regional.

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Ou seja, Gilda Maciel Corrêa Meyer Russomano, uma mulher frágil, magra e de pouca altura, mas de grande estatura, saiu de Pelotas, no extremo sul do Brasil, para brilhar internacionalmente, em tempos em que as mulheres eram mandadas “pilotar” o fogão e o tanque de lavar roupas.

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Nacionalmente, ela alertou o Governo Federal sobre a necessidade de expansão do Mar Territorial brasileiro, de modo a acompanhar as pretensões de outros países, e consequentemente o mesmo passou a ser de 200 milhas marítimas, pelo Decreto-Lei nº 1.098, de 25 de março de 1970 – reduzido, entretanto, depois, para 12 milhas marítimas, pela Lei nº 8.617, de 4 de janeiro de 1993, que acatou o limite preconizado pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar/CNUDM. Por esta sua atuação, porém, recebeu postumamente a Medalha Mérito Tamandaré, da Marinha do Brasil, entregue em cerimônia, havida na cidade de Rio Grande, em dezembro de 2007, ano de seu falecimento.

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Gilda também elaborou e redigiu o Projeto Brasileiro para a celebração do Protocolo Adicional ao Tratado de Itaipu sobre Direito do Trabalho e Previdência Social, existindo ainda correspondência, de 28 de dezembro de 1973, assinada por Mario Gibson Barboza, em nome do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, como agradecimento oficial a ela, por seus serviços prestados ao Itamaraty na função.

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Como integrante da Comissão Técnica, do Governo do Estado do RS, criada para estudar o “problema da criação de uma zona franca no porto da cidade de Rio Grande”, apoiou a criação do Super Porto contra a ideia de criação de uma Zona Franca local, como “solução exclusiva do problema”. Defendeu esta sua posição em conferência, proferida na noite de 11 de agosto de 1960, por ocasião dos festejos comemorativos do aniversário de fundação dos cursos jurídicos nacionais, naquela cidade, a convite da Faculdade de Direito Clóvis Bevilaqua, da Seção local da Ordem dos Advogados do Brasil e do Centro de Estudos Jurídicos de Rio Grande.

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Gilda Maciel Corrêa Meyer Russomano escreveu muito. Além de suas várias obras técnicas em suas principais áreas de atuação, publicadas no Brasil e no exterior, deixou outras também sobre Direitos Humanos, Integração Econômica e Direito Social. Participou da redação de capítulos de livros coletivos, igualmente publicados no Brasil e no exterior, produziu inúmeros verbetes da Enciclopédia Saraiva de Direito, e abordou outros aspectos legais ainda, como Extradição, Trabalho de Menores, Condição Jurídico-Trabalhista do Estrangeiro, Habeas Corpus e sua Esfera de Aplicação, e sobre Assistência à Maternidade no Direito Social, este último com trabalho de 1952, ou seja, do ano seguinte à sua Formatura em Direito, o qual seria transcrito nos Anais da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, além de traduzido para o espanhol e publicado em “plaquettes”, no Uruguai, e na Revista Derecho Laboral de Montevidéu, mais reflexões sobre Eutanásia, em “O Direito de Matar”, de 1948, onde ela contestava Evandro de Menezes, concluindo que: “Suportemos, corajosamente, a Dor incurável que nos feriu; não desertemos covardemente de nosso posto; e aos que nos acenarem, como remédio para nossos males ou como alívio a alheios sofrimentos, com um direito – o DIREITO DE MATAR, saibamos responder, com sincera e enérgica convicção, apontando-lhes um dever – o DEVER SUPREMO DE VIVER.”

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E escreveu mais, por exemplo, sobre a Competência de Israel no Julgamento de Eichmann; sobre Zona de Pesca; sobre Direitos Exclusivos do Estado à Exploração da sua Plataforma Continental; sobre o Condomínio da Lagoa Mirim; sobre A Questão das Missões; e, pasme-se, sendo declaradamente, se não “antifeminista”, pelo menos, “antissufragista”, falou sobre A Incapacidade Civil da Mulher Casada, em 1961. Ou seja, a impressão que se tem e que fica é a de que ela, sendo contrária à defesa pública e notória “armada” dos Direitos da Mulher, era (muito) favorável a eles. Mas, eram outros tempos e, neles, Gilda foi um soldado incansável. Fez, sozinha, muito mais pela Mulher, do que pareceria possível e, nesta luta, foi, de fato, exemplar. Mas era muito delicada de maneiras e feminina.

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Foi uma grande conferencista e atuou, como tal, numa infinidade de universidades nacionais e estrangeiras.

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Um de seus textos mais bonitos, para muitos, e hoje pouco conhecido, é o seu Um Depoimento sobre a Condição Social da Mulher no Brasil, um testemunho pessoal perante o Congresso Nacional do Brasil, durante a realização da Comissão Parlamentar de Inquérito/CPI da Mulher, em 1977, devido ao convite feito, com “insistência generosa” pelo Senador Nélson Carneiro. O mesmo foi publicado como Separata da Revista Legislação do Trabalho e Previdência Social/LTR, em abril de 1978, e, embora ela não se considerasse “feminista”, como já foi dito, e como ela gostava de esclarecer, parecia (muito) com uma e com uma das mais combativas…

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Além de toda a sua exaustiva produção bibliográfica profissional, escrevia reflexões, pensamentos e orações. Católica fervorosa, pertencia à Associação das Mães Cristãs, organização criada, em Pelotas, no dia 6 de maio de 1929, tendo sido de sua autoria a conhecida Oração da Mãe Cristã, à qual, sempre que rezada, concedia 100 dias de indulgência, por decisão de30 de junho de 1953 do Bispo Resignatário de Pelotas, Dom Antonio Zattera, o fundador da prestigiada Universidade Católica de Pelotas/UCPel, cujo Episcopado iniciou-se na cidade gaúcha de Bento Gonçalves, em 31 de maio de 1942.

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Tinha especial devoção pela Oração de São Francisco e colecionava várias de suas impressões. Era muito devota também de Santo Antônio de Pádua. Orgulhava-se especialmente de sua Medalha PRO ECCLESIA ET PONTIFICE, recebida de SS. Papa João XXIII, assim como, de ser Ministra Extraordinária da Eucaristia.

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Aliás, ela recortava de periódicos e copiava a mão, orações, textos, pensamentos e poesias de que gostava, organizando-os em seus muitos cadernos de apontamentos.

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Entre seus muitos títulos universitários, destacam-se ainda os de:

– Doutora (antiga Catedrática) em Direito Internacional Público, de 1961;

– Doutora (antiga Catedrática) em Direito Internacional Privado, de 1964, ambos da Faculdade Federal de Direito de Pelotas;

– Professora Honoris Causa da Universidade Pedro Henrique Ureña, de Santo Domingo, República Dominicana, de 1989; e

– Doutora Honoris Causa da Universidade Católica de Pelotas/UCPel, concedido na noite de 3 de abril de 1997.

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Recebeu os títulos honoríficos de Cidadã Pelotense, de Gaúcha Honorária e de Membro Honorário da Academia Brasileira de Letras Jurídicas do Rio de Janeiro. Sendo carioca de nascimento, mas pelotense por adoção e de coração, orgulhava-se particularmente do título de Cidadã Pelotense, concedido em 18 de dezembro de 1967, através da Lei Nº 1.647 dessa municipalidade, sendo Prefeito da cidade, Edmar Fetter.

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Foi Comendadora da Ordem do Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, e Comendadora da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, do Tribunal Superior do Trabalho/TST. Foi Grã-Oficial da Ordem de Cristóbal Colón, da República Dominicana, Grande Oficial da Ordem do Ponche Verde, do Governo do Rio Grande do Sul; e recebeu o Grande Colar do Instituto Luso-Hispano-Americano de Direito Internacional, de Madrid, Espanha, de que era Membro; do Instituto de Coimbra, Portugal; da União das Comunidades de Cultura Portuguesa; da Sociedade de Geografia de Lisboa, Portugal; e da Universidade Federal de Pelotas/UFPel.

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Recebeu ainda as Medalhas do Centenário de Rui Barbosa, em 1949, e do Centenário de Clóvis Bevilaqua, em 1959, ambas do Ministério da Educação e Cultura do Brasil; do Cinquentenário da Faculdade de Direito do Amazonas, em 1959; a de Sílvio Romero, da Secretaria de Educação e Cultura do Rio de Janeiro, em 1960; a de Ernesto Vasconcelos Chaves, da Faculdade de Direito da Universidade de Belém, em 1962; a do Cinquentenário da Faculdade de Direito de Pelotas, em 1962; a Medalha de Ouro do Colégio dos Advogados da Liberdade, do Peru; além da já citada Medalha Mérito Tamandaré, da Marinha do Brasil, postumamente, em 2007.

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Representou os juristas uruguaios e brasileiros, participantes da I Jornadas Uruguaio-Brasileiras de Direito Comparado, em discurso proferido como homenagem a Eduardo J. Couture, em Montevidéu, em 1961; e representou o Instituto de Sociologia e Política, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na Sessão Solene, comemorativa ao Cinquentenário de Falecimento do Barão de Rio Branco, em 1962, de que participaram os Professores Haroldo Valladão, do Brasil, e Jimenez de Aréchaga, do Uruguai.

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Em suma? Uma vida digna de nota e de todo tipo de elogios, que teve fim em 18 de agosto de 2007, a um mês exato de seu aniversário de 84 anos, depois de um grave acidente doméstico na noite de 6 para 7 de junho de 1997, do qual nunca se recuperou. Mas teve, sim, depois deste acidente e ainda em vida, duas grandes satisfações acadêmicas, a primeira, ao receber pessoalmente o Grande Colar da UFPel, em Ato Solene, comemorativo ao Aniversário da Faculdade de Direito, da Universidade Federal de Pelotas, presidido por sua Reitora, a Professora Dra. Inguelore Scheunemann de Souza, que teve início às 11 horas do dia 12 de setembro de 2000, ou seja, às vésperas de Gilda completar 77 anos, quando proferiu discurso de agradecimento público; e, a segunda, com o Seminário de Estudos de Direito Internacional Gilda Russomano, uma iniciativa da mesma  Faculdade de Direito, através de seus organizadores, Professora Ivone Homrich e Professor Ricardo Vasconcellos, realizado de 8 a 10 de novembro de 2006.

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Grande Mulher, de tão saudosa memória, de quem, em resumo, é isto que se pode dizer, mas de quem, com certeza, muito mais haveria para falar. Mas, em resumo, é isto.

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